A Cabana - minhas impressões


Em final de 2008 comprei o bestseller A Cabana influenciada por alguns líderes de igreja que entusiasmados diziam ser esta uma visão maravilhosa de como Deus interage e trabalha com os homens.

No momento eu estava lendo outros livros e A Cabana ficou à espera na estante por um longo tempo. Um dia de fevereiro deste ano, arrumando a estante, me deparei com o livro novamente e iniciei a leitura.

Tenho que concordar com os 15 milhoes ou mais de leitores de que é uma ficção deliciosa de ler. Dá vontade de dormir mais tarde só para ler mais um capítulo, ou dois! A história em si é muito envolvente cheia de surpresas, suspenses e temperada com uma diversidade de sentimentos que nos levam do riso ao choro em meia página.

O livro aborda a questão recorrente da existência do mal através da história de Mack Allen Phillips, um homem que vive sob o peso da experiência de ter sua filha Missy, de seis anos, raptada durante um acampamento de fim de semana. A menina nunca foi encontrada, mas sinais de que ela teria sido assassinada são achados em uma cabana perdida nas montanhas.

Vivendo desde então sob a "Grande Tristeza", Mack, quatro anos depois do episódio, recebe um misterioso bilhete supostamente escrito por Deus, convidando-o para uma visita a essa mesma cabana. Ali, Mack terá um encontro inusitado com Deus, de quem tentará obter resposta para a inevitável pergunta: "Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar ou impedir nosso sofrimento?"

O livro, que tornou-se um best-seller desde seu primeiro lançamento não foi escrito para ser publicado, conta o autor. A história havia sido criada como um presente que Young imprimiu para 15 amigos no natal de 2005.

Young afirma que muito da história tem a ver com sua própria experiência de vida e que escreveu o livro em uma ocasião que "ele próprio precisava de consolo".

É um livro execelente ainda mais para aqueles que como eu, passaram por perdas tão dolorosas. É uma pomadinha na ferida, arde mas ajuda a cicatrizar.

De qualquer forma, fiquei incomodada com a maneria com que os cristãos de forma geral (católicos, evangélicos, protestantes, carismáticos, etc) ficaram entusiasmados com a VISÃO do autor sobre a Trindade e a forma com que esta se manisfesta e interage com os homens. Comecei a ficar preocupada com alguns comentários de líderes de igrejas que colocavam a manifestão de Deus, Jesus e Espírito Santo encontrada em A Cabana como doutrinária!

Pessoal! 
Ficção NÃO É DOUTRINA!!

Vale ressaltar que o conceito de santíssima trindade deste livro mais volta-se para o modalismo do que aquele da trindade propriamente dito. Isso porque no livro encontram-se frases do tipo "E Deus falou assim: eu sou verdadeiramente humano na figura de Jesus." ou ainda "existe um círculo de relações entre nós [Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo] ao invés de uma cadeia de comando" consistentes com modalismo na qual Deus faz o papel intercaladamente e não concomitantemente de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e não existe hierarquia.

O MODALISMO também conhecido como Sabelianismo é a crença estabelecida no Século III de que a Trindade não se configura em três pessoas, mas em modos, ou atributos de Deus. O MODELISMO histórico ensina que Deus, o Pai é a única pessoa da Divindade.

Seus ensinos propõem que Deus, o Pai, e Jesus são o mesmo. De acordo com sua crença, os termos "Pai" e "Espírito Santo" descrevem ambos o Deus que habitou em Jesus.

Ela é atribuída a Sabélio, que ensinou uma forma desta doutrina em Roma na época. O MODELISMO foi adotado pelos cristãos em Cirenaica, para quem Demétrio, Patriarca de Alexandria, escreveu cartas rebatendo sua fé. O principal oponente do Sabelianismo foi Tertuliano, que tachou o movimento de "Patripassianismo", a partir dos termos latinos patris para "pai", e passus por "sofrer", isto implicaria que Deus, o Pai teria sofrido na Cruz. Tertuliano na obra Adversus Praxeas, diz no Capítulo II, o seguinte: "Com isto Praxeas fez um duplo serviço para o diabo em Roma: ele desviou a profecia para longe e a trouxe em heresia; pôs em vôo o Paracleto, e crucificou o pai".

É importante observar que os estudantes de teologia modernos não estão de acordo sobre o que Sabélio ou Praxeas ensinaram (modelismo). Hoje, o MODELISMO (forma com que A Cabana descreve a trindade) é rejeitado pela maiorias das doutrinas cristãs, arguindo alguns que ele leva necessariamente ao Nestorianismo doutrina herética cristã, nascida no século V, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. A doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pela Rosacruz e outras doutrinas ligadas à gnose.


Os teólogos protestantes e batistas estabelecem a doutrina da Trindade como segue: "Deus nos é revelado como Pai, Filho e Espírito Santo, cada um com atributos pessoais distintos, mas sem divisões de natureza, essência ou ser".

A doutrina da Trindade não quer dizer que Deus se manifesta em três diferentes maneiras mas sim que há três distinções na Divindade e essas três distinções são eternas. Isto está provado, de um lado, pela imutabilidade de Deus provado pelas escrituras, as quais afirmam ou implicam a eternidade do Filho e do Espírito Santo em João 1:1,2; Apocalipse 22:13,14; Hebreus 9:14.

Estas três distinções nos são representadas sob a figura de pessoas, mas não há divisão de natureza, essencia ou ser. Quando falamos das distinções da Divindade como pessoas, devemos entender que usamos o termo figuradamente. Não há três pessoas na Divindade no mesmo sentido em que três seres humanos são pessoas. No caso de três seres humanos há divisão de natureza, essência e ser, mas Deus não é assim ele possui uma única essência, uma única natureza, não há divisão de personalidades na trindade.

Existem outros aspectos relevantes sobre desvios doutrinários no livro mas não vou me aprofundar neles agora. Minha intenção é apenas a de abrir seu olhos e entendimento incentivando a todos a sempre fazerem uma leitura crítica de tudo o que chegar às suas mãos.

A Cabana, execelente livro de ficção. 
Excelente livro de reflexão. 
Nada mais que isso!
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Leia a seguir parte de uma entrevista com o autor que extrai do JB online (para ler na integra clique aqui)

Para Young, a “cabana” em questão é uma metáfora.
Trata-se do lugar onde nos machucamos e ficamos presos e onde precisamos lidar com nossa raiva e angústia.

– Eu sou Mack – confessa.

– Estava com 50 anos e quis analisar a minha vida. Tinha levado 38 anos para voltar à minha “cabana”. Queria fazer para minhas filhas e mulher um resumo das minhas várias idéias sobre a vida.

Por causa de sua visão peculiar sobre a fé, o livro levantou algumas polêmicas nos Estados Unidos. Além de criticar alguns aspectos do cristianismo, retrata Deus como uma figura feminina e mostra Jesus de uma maneira familiar.

Em um capítulo, o protagonista chega a fazer um alegre piquenique com o Messias, empanturrando-se de guloseimas. Tanto Deus quanto Jesus batem papo naturalmente com Mack, dizendo coisas como “Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro”.

Ou então: “O humano, formado a partir da união material e física, pode ser habitado pela vida espiritual, a minha vida”.

Educação religiosa do Autor

Nascido em Nova Guiné, filho de pai missionários, Young recebeu uma educação religiosa, mas acabou tendo conflitos com a fé durante boa parte da vida. Hoje, não pertence mais a uma corrente religiosa específica.

– Esse não é um romance cristão – afirma o escritor.
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LEITURA OBRIGATORIA
(fique longe dessa cabana)